Especialistas ouvidos pelo Metrópoles explicam consequências do horário de verão para consumidores individuais e também coletivamente
O governo federal estuda o retorno do horário de verão com o argumento de poupar energia. A necessidade ganhou força com a redução dos volumes dos reservatórios das usinas hidrelétricas, severamente afetadas pela estiagem.
No entanto, especialistas explicam que a economia de energia que pode vir a ser efetivada com o retorno do horário de verão apresenta diferenças para os clientes individualmente e também no coletivo do país.
Independente da economia na conta individual de energia, os dois profissionais do segmento consultados pela reportagem reforçam a importância da medida para garantir o abastecimento. Historicamente, a economia no horário de pico, entre 18h e 21h, variou de 4% a 5%.
Engenheiro eletricista e ex-conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), Jovanilson Freitas afirma que, quando observado o aspecto individual, o consumidor pode nem perceber a redução na conta.
“Para o consumidor final, o horário de verão não gera economia. No primeiro momento, ele vai ter necessidade de usar esta energia no início do dia, quando está escuro”, contextualiza.
Doutor em engenharia elétrica, o professor de engenharia elétrica da Universidade Nacional de Brasília (UnB) Ivan Camargo explica que a redução não é tão perceptível individualmente porque o aproveitamento da luz solar acontece em uma das 24 horas do dia.
“Quando você divide a redução pelas 24 horas do dia, a economia fica irrisória. Então, tem muita gente que critica o horário de verão porque a economia de energia realmente é pequena”, detalha Camargo.
O importante é o coletivo
Por outro lado, os dois especialistas explicam que a redução no consumo no horário de pico é importante para manter a segurança de que não faltará energia.
“Quando comparo o consumo de todos ao longo do dia, em termos de uso do sistema elétrico, eu vou ter uma economia porque reduzo a geração de energia. Com o horário de verão, o consumidor pode ter um tempo para não estar em casa ainda de dia e aproveitar o dia na rua. Consequentemente, alguns aparelhos que poderiam estar ligados em casa, não vão estar acionados”, diz Freitas.
O professor da UnB acrescenta que o horário de verão faz com que o pico de demanda seja aproximado ao horário em que as usinas de energia solar ainda estão em condições de funcionar, por causa da luz solar. No período noturno a geração eólica também perde força.
“As usinas solares aqui no Brasil são muito importantes. Elas começam a parar de gerar porque o Sol está se pondo. É nessa hora que têm de entrar em operação todas as usinas térmicas e hidráulicas para suprir a demanda por carga. Então, é bom que a gente economize energia nesse horário. É importante para a operação do sistema”, justifica Camargo.
Ainda em análise
Pelo menos até o início da próxima semana, não deve haver decisão sobre a volta do horário de verão. A afirmação partiu do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante uma entrevista coletiva na quinta-feira (19/9).
A fala do ministro foi feita logo após ele receber um relatório técnico do Operador Nacional do Sistema (ONS) o qual recomenda a adoção do horário de verão ainda neste ano.
“Estamos nos reunindo para tomar medidas necessárias. O grande desafio do setor elétrico é segurança energética com a menor tarifa”, disse o ministro. O assunto deve ser levado ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para o martelo ser batido.
O horário de verão foi extinto em abril de 2019 pelo então presidente, Jair Bolsonaro. A decisão foi criticada na quinta por Silveira. “Em 2019, por uma imensa irresponsabilidade, sem nenhuma base científica, foi suspenso esse sistema de segurança energética. Consequentemente, em 2021 estivemos à beira de um colapso, e isso custou ao povo brasileiro um empréstimo de R$ 5 bilhões”, afirmou o ministro ao explicar que isto significou uma tarifa mais cara no serviço.
Cenário
Afetado pelo El Niño, o último período chuvoso não foi generoso em boa parte do Brasil. Com isto, as chuvas ficaram abaixo da média em grande parte do território nacional. Com o avanço do período de estiagem, as hidrelétricas estão passando por redução nos volumes dos reservatórios.
As hidrelétricas são divididas em subsistemas baseados, mas não exatamente, nas grandes regiões brasileiras. O subsistema Sudeste/Centro-Oeste é o que tem a situação mais desconfortável no momento, com 50,07% de água reservada. Em seguida, vem o Nordeste com 51,86%. Depois aparecem os outros dois: Sul (55,55%) e Norte (77,10%). Os dados são do ONS e atualizados até a última quarta-feira (18/9).
O ONS orientou que a partir de outubro as usinas termelétricas sejam acionadas para garantir o abastecimento. Elas são equipamentos mais poluidores e mais caros na comparação com as fontes renováveis. Como estas estruturas já estão sendo acionadas, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já determinou a aplicação neste mês da bandeira vermelha patamar 1. Com isto, haverá um acréscimo de R$ 4,463 a cada 100 quilowatt-hora consumidos.
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